DRACUNCULOSE CONTINUA POR CÁ

Uma missão da Organização Mundial da Saúde (OMS) vai enviar uma missão à província do Cunene para reforçar parcerias que permitam combater a dracunculose, doença endémica que Angola ainda não conseguiu erradicar.

De acordo com um comunicado de imprensa da OMS, a missão vai decorrer entre os dias 15 e 17 deste mês nesta província do sul de Angola, onde entre 2018 e 2020 foram identificados casos humanos, tornando o país endémico para esta doença e um dos cinco no mundo que ainda não conseguiu erradicar esta enfermidade.

A dracunculose é uma doença parasitária causada pelo ‘Dracunculus medinensis’, um verme longo de cor branca, que pode medir entre 60 e 100 centímetros.

A OMS sublinha que ainda não existe tratamento para a dracunculose, sendo a prevenção a medida mais segura e eficaz para evitar a sua transmissão.

Segundo a organização, o Ministério da Saúde de Angola tem implementado todas as intervenções que recomendou, incluindo a vigilância de base comunitária, o controlo de vectores e a fixação proactiva de animais domésticos.

“Por sua vez, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e outros parceiros, nomeadamente o Centro Carter (TCC), apoiam os esforços do país na erradicação da dracunculose, prestando assistência técnica, coordenando actividades de erradicação, reforçando a vigilância em áreas livres da doença e monitorizando e informando sobre os progressos alcançados”, frisa.

A missão inclui reuniões com o governo provincial e com as autoridades sanitárias no município de Ondjiva, seguidas de trabalho de campo no município de Namacunde para verificar o tratamento de água de superfície com o larvicida Abate, na aldeia de Oluxwa ya Kalunga.

A agenda de trabalho prevê igualmente reuniões com as autoridades tradicionais e um diálogo comunitário para reforçar a colaboração efectiva entre todos os envolvidos.

Dados divulgados em Julho de 2022 pela OMS indicavam que o país tinha o registo de dez casos, dos quais três em humanos e sete infecções em animais.

Os seres humanos são infectados com a ingestão de água contaminada por micro crustáceos, cujas larvas penetram na parede do intestino tornando-se vermes adultos em aproximadamente um ano, período em que a doença é assintomática. O paciente com esta doença apresenta uma lesão cutânea dolorosa do tipo inflamatória, devido ao verme.

Angola é um dos seis países africanos que registam um surto da doença do Verme da Guiné (dracunculose) cujo epicentro é o município de Namacunde, província do Cunene, com 32 casos confirmados desde 2018. Os outros países são Chade, Etiópia, Sudão do Sul, República Centro Africana e Camarões.

Mavitidi Sebastião, responsável do Programa do Verme da Guiné da OMS em Angola, deu conta que, desde 2018 até à presente data, o país registou a ocorrência de 32 casos (maioritariamente em animais) e 53 casos suspeitos que aguardavam confirmação laboratorial.

Doenças tropicais negligenciadas

Os líderes mundiais reafirmam em 2017 comprometimento de pôr fim às doenças tropicais negligenciadas, citando avanços notáveis desde 2012. Para tal, governos e doadores privados prometem 812 milhões de dólares na cimeira de cinco dias que decorreu em Abril de 2017em Genebra (Suíça).

Líderes de governos, empresas farmacêuticas e organizações filantrópicas reuniram-se em Genebra numa cimeira de cinco dias para assumir novos compromissos aos esforços colectivos para controlar e eliminar as Doenças Tropicais Negligenciadas (DTN).

O encontro coincidiu com o lançamento do Quarto Relatório da OMS sobre as DTNs, mostrando progressos visíveis contra estas doenças debilitantes e um compromisso do Reino Unido para duplicar o seu financiamento para as DTNs.

Antes, foi assumida a Declaração de Londres sobre DTN, um compromisso dos sectores público e privado para atingir os objectivos da OMS para controle, eliminação e erradicação de 10 DTN. Naquela época, bilhões de tratamentos foram doados por empresas farmacêuticas e entregues a comunidades empobrecidas em quase 150 países, alcançando quase um bilhão de pessoas em 2015.

As DTN são algumas das doenças mais antigas e mais dolorosas que afligem as comunidades mais pobres do mundo. Uma em cada seis pessoas no mundo sofre de DTN, incluindo mais de meio bilhão de crianças. As DTN incapacitam, debilitam e perpetuam ciclos de pobreza, mantendo crianças fora da escola, pais fora do trabalho, e diminuem a perspectiva de seu desenvolvimento económico.

Um relatório da OMS, intitulado Integração das Doenças Tropicais Negligenciadas na Saúde e Desenvolvimento Globais, revelou que, mais do que nunca, pessoas estão a ser atendidas com as intervenções necessárias para as DTN. Em 2015, cerca de um bilhão de pessoas recebeu tratamentos doados por empresas farmacêuticas para pelo menos uma DTN, representando um aumento de 36% desde 2011, um ano antes do lançamento da Declaração de Londres. À medida que mais países e regiões eliminam as DTN, diminui também o número de pessoas que necessitam de tratamento, de 2 bilhões em 2010 chegou-se a 1,6 bilhão em 2015.

“A OMS tem observado um progresso sem precedentes na história, que colocou de joelhos pragas antigas como a doença do sono e a elefantíase”, disse Margaret Chan, então Directora-Geral da OMS: “Nos últimos dez anos, milhões de pessoas foram resgatadas da invalidez e pobreza graças a uma das parcerias globais mais efectivas da saúde pública moderna”.

O relatório detalhava o progresso ante cada doença, citando países e regiões que estavam a alcançar metas de controle e eliminação para DTNs específicas.

Filariose linfática (LF, em Inglês, ou Elefantíase), atingindo a meta: Oito países (Camboja, Ilhas Cook, Maldivas, Ilhas Marshall, Niue, Sri Lanka, Togo e Vanuatu) eliminaram a LF, e outros dez países aguardavam os resultados da fiscalização para verificar a eliminação. Graças aos fortes programas, o número de pessoas que requerem tratamento preventivo a nível mundial diminuiu de 1,4 bilhão em 2011 para menos de 950 milhões em 2015.

Mínimo histórico de casos de Tripanossomíase Africana (HAT, em Inglês, ou doença do sono): Em 2015, houve menos casos registados da doença do sono que em qualquer outro ano da história, com menos de 3000 casos em todo o mundo – uma redução de 89% desde o ano 2000. As tecnologias inovadoras de controle e diagnóstico de vectores, apoiadas por um número crescente de parcerias para o desenvolvimento de produtos, estão revolucionando o diagnóstico, a prevenção e o tratamento da doença do sono.

Diminuição de 82% em casos de Leishmaniose visceral (VL, em Inglês) na Índia, Nepal e Bangladesh: Desde 2008, os casos de VL nestes países diminuíram 82% devido às melhorias no controle de vectores, mobilização social de voluntários das aldeias, colaboração com outros programas de DTN e doação de medicamentos dos parceiros da indústria.

Doença do verme-da-Guiné aproxima-se da erradicação: Os casos de doença do verme-da-Guiné diminuíram de aproximadamente 3,5 milhões em 1986 a somente 25 casos humanos em apenas em três países (Chade, Etiópia e Sudão do Sul) em 2016.

Os governos e outros doadores anunciaram novos compromissos durante a cimeira para ampliar o alcance e o impacto dos programas de DTN em todo o mundo. A Fundação Bill & Melinda Gates garantiu 335 milhões de dólares de doações nos próximos quatro anos para apoiar um grupo diverso de programas de DTN focados no desenvolvimento e entrega de medicamentos, vigilância de doenças e controle de vectores. O compromisso inclui 42 milhões de dólares para apoiar a iniciativa de erradicação do verme-da-Guiné do Centro Carter, além de fundos dedicados a acelerar a eliminação da Doença do Sono Africana.

“As DTN são algumas das doenças mais dolorosas, debilitantes e estigmatizadas que afectam as comunidades mais pobres do mundo. É por isso que ajudamos a lançar a Declaração de Londres, um marco histórico que levou a um progresso significativo no tratamento e redução da disseminação das DTN e demonstrou o impacto que o sector público, o sector privado, as comunidades e as ONG podem ter quando trabalhando juntos”, disse Bill Gates, co-Presidente da Fundação Bill & Melinda Gates.

“Graças a esta parceria, estas doenças negligenciadas estão a receber agora a atenção que merecem, e menos pessoas têm que sofrer com estas condições tratáveis. Houve muito êxito nos últimos cinco anos, mas o trabalho ainda não está terminado. Nós estabelecemos metas ambiciosas para 2020 que exigem o compromisso continuado de empresas farmacêuticas, governos doadores e receptores e dos trabalhadores de saúde de linha de frente para garantir que os medicamentos estejam disponíveis e sejam entregues às pessoas de mais difícil acesso”.

O Governo da Bélgica também prometeu 27 milhões de dólares adicionais, divididos igualmente nos próximos nove anos, para a eliminação da doença do sono no República Democrática do Congo. Este montante foi igualado nos três anos seguintes pela Fundação Bill & Melinda Gates, estabelecendo uma plataforma para uma maior colaboração entre Bélgica, República Democrática do Congo e a ampla parceria de DTN.

Como parte de seu compromisso em eliminar a Tripanossomíase Africana, a Vestergaard comprometeu-se a doar 20% de seus insecticidas para pequenos alvos usados no controle da mosca tsé-tsé que transmite a doença, aumentando essa quantidade para até 100% nos três anos seguintes.

Estes compromissos basearam-se no anúncio do Governo do Reino Unido no qual prometeu quase 450 milhões de dólares ao longo de cinco anos para apoiar os esforços mundiais de controle e eliminação das DTN.

O progresso na luta contra as DTN tem sido possível graças à doação em grande escala de medicamentos por parte de 10 empresas farmacêuticas. Desde a Declaração de Londres, as empresas doaram mais de 7 bilhões de tratamentos que, com o apoio dos parceiros, alcançam quase um bilhão de pessoas em cada ano. Estas doações, com um valor estimado de 19 bilhões de dólares entre 2012 e 2020, multiplicam muito o impacto dos investimentos dos doadores; a USAID estima que cada dólar investido na entrega das doações corresponde a 26 dólares em medicamentos.

“A Declaração de Londres é um exemplo poderoso do impacto de parcerias de sucesso”, disse Haruo Naito, CEO da Eisai e um signatário original da Declaração de Londres: “Ao aproveitar os nossos recursos e focar um objectivo comum, já estamos a fazer progressos sem precedentes na direcção da eliminação destas doenças terríveis. O trabalho que estamos a fazer hoje é um investimento a longo prazo em um futuro mais saudável e próspero”.

Além das doações, as empresas farmacêuticas estavam a trabalhar em parceria e com institutos de pesquisa para descobrir e desenvolver novas ferramentas para prevenir, diagnosticar e tratar DTN. Um relatório publicado pela Federação Internacional de Fabricantes e Associações Farmacêuticas colectou todo o escopo dos investimentos da indústria em P&D de DTN.

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